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Homossexualidade

“Do ponto de vista da Psicanálise, nem sequer o interesse sexual exclusivo do homem pela mulher é algo óbvio, senão um problema que requer esclarecimento, pois não é fato evidente em si mesmo.”
Sigmund Freud
Na antiguidade grega a homossexualidade era culturalmente aceita; com o advento do cristianismo, ela passa a ser uma prática condenada, considerada pecado abominável. O final da Segunda Guerra Mundial revelou atrocidades nos campos de concentração para o mundo e cresceram mundialmente os movimentos humanistas contra qualquer forma de discriminação humana, favorecendo o movimento de despatologização da homossexualidade. Também houveram alterações e reformulações no DSM que passou a não considerar a homossexualidade uma patologia. Graças a estudiosos da área da saúde mental e do comportamento humano sabemos que considerar a homossexualidade uma doença e propor uma mudança de direção da sexualidade pode causar grandes danos psicológicos ao indivíduo.
    
Para a Psicanálise a homossexualidade não é uma patologia e, logo, não pode ser objeto de um tratamento que vise eliminá-la. A Psicanálise entende que a sexualidade humana é construída, ela depende das nossas experiências, do nosso curso de vida e da forma como vamos lidando com questões como identificações e escolhas inconscientes de pessoas que amamos e que vão formando os nossos desejos a partir de fantasias inconscientes. Além disso, o ser humano tem uma constituição bissexual: existem em todos os indivíduos, coexistindo lado a lado em proporções diferentes, componentes heterossexuais e homossexuais. Freud dizia que nossa anatomia faz parte do destino, mas que os desdobramentos psíquicos de cada um deve ser levado em conta; para ele a diferença sexual é um processo complexo, articulado com o desenvolvimento da pulsão sexual e da libido.  
Por essas razões podemos dizer que para a psicanálise a homossexualidade é uma disposição, um tipo de fantasia ou escolha inconsciente, onde a vontade consciente não participa ativamente, é um tipo de escolha que vai se processando sem que tenhamos muita autonomia sobre isso, sem que se consiga determinar um caminho ou outro. Desejos e identificações são dois processos que fazem parte desta escolha. 
Certas visões que associam a homossexualidade a distúrbios do caráter e sociopatias devem ser fortemente criticadas. A Psicanálise também se opõe à pedagogia do desejo pois entende que esta é uma falácia: não se pode educar, direcionar ou desviar os impulsos sexuais (ou pulsão, para a Psicanálise) para acomodá-los aos ideais da sociedade, pois eles seguem os caminhos traçados pelo inconsciente, que é individual e singular.
Mas sabemos que existe preconceito. A moral cristã ainda é fortemente presente em nossa cultura e o julgamento entre o aceitável e o condenável infelizmente impera em muitas situações. Podemos supor que o preconceito surge quando se toca nesse lado bissexual que não se quer ter contato; pode-se reagir com ódio, um ‘não quero saber disso‘, isso que nos lembra que no fundo nossa orientação para um lado ou para o outro é relativamente plástica, não são orientações determinadas. Essa dificuldade toca numa diferença que cada um tem que resolver por si mesmo, podendo também contar com a ajuda do analista. Qualquer tentativa de tornar as pessoas vítimas de concepções equivocadas deve ser repudiada.
Referências de leitura:

Antonio Quinet e Marco Antonio Coutinho Jorge: “As Homossexualidades na Psicanálise”, 2013 – Editora Segmento Farma
Sigmund Freud: “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, 1905.

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