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O desejo do analista e o autismo

Por: Andréa Hortélio Fernandes 

O desejo do analista é que a análise se dê. Para tanto, o analista seria convocado a operar no lugar de agente do discurso do analista. Operar da posição de objeto a que pode causar o desejo do sujeito. Contudo, quando na clínica o analista confronta-se com alguém cuja posição de sujeito aí não se presentifica, o analista é convocado a fazer a “psicanálise invertida”, termo cunhado por Colette Soler (1997, p. 2). Tal situação me levou a pensar sobre o que pode o psicanalista diante de alguns sujeitos que fracassam ao se inscreverem num discurso, mas especificamente no discurso do Outro, como é o caso das crianças autistas. Portanto, o presente texto busca investigar qual o uso que essas crianças podem fazer do desejo do analista. 
É a partir deste questionamento que pretendo tratar o binômio – O desejo do analista e o autismo. Os binômios que tomo aqui como pares de opostos constituem a base arcaica da língua. A clínica com crianças cuja hipótese diagnóstica é de autismo mostra como elas se interessam bastante em pôr em ação os pares de significantes opostos. Elas costumam dedicar bastante tempo das sessões em, por exemplo: abrir e fechar porta, ascender e apagar a luz. Segundo Nominé, “o autista é fascinado por esse nível arcaico” da linguagem expresso pelo “funcionamento binário do significante” (NOMINÉ, 2012, p. 16). 
No autismo existiria, então, “uma espécie de gozo automático do significante” (Ibid). Nas crianças ditas autistas é possível perceber “um gozo muito primitivo que não é articulável à fala e que não é partilhável com ninguém” (Ibid). Familiares dessas crianças chegam à clínica ressentidos pela perda e/ou ausência da fala, do olhar, ou melhor, de qualquer sinal de uma demanda destas crianças. Os analistas advertidos pelo jogo do Fort-da do neto de Freud sabem que uma especificidade da língua é que “primitivamente os significantes se constituem por pares de opostos” (Ibid), não retrocedem diante do autismo. 
No seu texto Autismo e Paranoia, Colette Soler diz que as crianças ditas autistas “são sujeitos, mesmo que elas não falem, uma vez que são tomadas no significante pelo fato de se falar dela; no Outro há significantes que a representam” (SOLER, 1999, p. 222). Ela propõe que escrevamos o sujeito autista com o seguinte matema: 
s – sujeito representado, subposto, posto embaixo dos significantes que o representam no Outro. 
Esta é a primeira emergência de todo sujeito, ser falado pelo Outro. A questão que se coloca é de como o sujeito pode vir à agente de um discurso, “tornar-se alguém que fala, dito de outra maneira, alguém que se anima de libido” (SOLER, Ibid). Com o matema acima, Soler deseja demonstrar que o sujeito suposto pelos significantes do Outro ainda não fez sua entrada no real. Isto justificaria a necessidade de uma psicanálise invertida. 
É a libido do Outro que se liga às crianças autistas, aqui é importante “evocar sua inclusão no lugar do Outro” (Ibid). Como é pela demanda que o sujeito “faz sua entrada no real” (Ibid, p. 225), é por essa via, também, que pode vir a se separar do Outro. Logo, o olhar e voz concorrem na relação que pode vir a se estabelecer entre a criança autista e o Outro. 
Assim, com bastante frequência, no início do tratamento, o analista é tomado como um objeto qualquer da sala. Ao olhar o analista, o olhar da criança o atravessa. A criança pega no analista como se pegasse num móvel da sala. E com o tempo, a criança vem a se apoiar na perna, no braço do analista, deixando-se tomar pela libido do Outro. 
As crianças autistas evidenciam na clínica que “não entram por conta própria na alienação significante… Essas crianças, na condição de sujeitos, permanecem puros significados do Outro” (Ibid, p. 226). Essas crianças, muitas vezes, são consideradas unicamente no nível da palavra e dos significantes do Outro. Os analistas ao falar delas com a mãe ou com aqueles que as rodeiam terminam por dar continuidade a isso. 
Bernard Nominé traz um caso, bastante ilustrativo, acerca disso que foi denominado por ele “o menino de botas”. Era um menino que não dizia uma só palavra e logo que entrava na sala se despia. Nominé conseguiu fazer com que ele parasse de se despir, mas o garoto continuava a tirar os sapatos. Quando o pai vinha pegar o filho era uma luta para calçar-lhe os sapatos. Então, Nominé é informado pelo pai que o menino passava o dia todo descalço e à noite só dormia depois de calçar as botas que seu avô tinha lhe dado. O nome do menino era um nome bastante raro que foi dado pelo pai, a contragosto da mãe. Na região em que morava esse nome era bastante conhecido por evocar “um célebre desportista que tinha a particularidade de sempre fazer dupla com seu irmão” (NOMINÉ, 1999, p. 241). Nominé declara ainda que o irmão gêmeo do avô do seu paciente fez carreira neste esporte, enquanto seu avô era tesoureiro do clube, pois tinha os pés aleijados.1 O avô também fabricava botas, o pai do menino sonhava em ser artilheiro2 e deu ao filho o nome de um célebre artilheiro. 
Nominé relata estar neste momento no início de sua prática como analista e ter feito a seguinte intervenção: “Talvez você acredite que papai lhe peça para substituir os feios pés de vovô” (Ibid). De imediato, o menino colocou os pés sobre os de Nominé e passou a se grudar nele a cada sessão, tal efeito para Nominé ilustra o status da criança como “puro significado do Outro” (Ibid, p. 242). Segundo Nominé, ao “bancar o Outro” para o menino, “ele entendeu poder fazer Um com o analista”. 
O fazer Um com o analista é algo sobre o que o analista deve estar advertido na clínica com crianças autistas. Algumas vezes, elas chegam numa relação muito próxima com um dos membros da família e isso é ilustrado pela recusa veemente da criança em deixar que seu acompanhante fique na sala de espera ou é o acompanhante que tem dificuldade em aceitar isso. Mas, o que chama a atenção, algumas vezes, é o jogo quase simbiótico entre a criança e esse Outro. Em muitas brincadeiras, inclusive acrobáticas, essas crianças revelam que seu corpo é uma continuidade do corpo do Outro. 
Sobre isso, é interessante destacar que, segundo Lacan, “o que cria a estrutura é a maneira como a linguagem emerge de início em um ser humano” (LACAN, 1976, p. 46). E ainda, com Lacan, sabemos que de início não há linguagem, há alíngua. Dito de outra forma “não há senão suportes múltiplos da linguagem, que se chama de alíngua” (LACAN, 1977). 
A entrada na linguagem supõe as operações de alienação e separação. Colette Soler insiste nisso ao afirmar que o sujeito suposto pelos significantes do Outro ainda não fez sua entrada no real. Aqui, Soler faz referência a uma passagem do texto Observação sobre o relatório de Daniel Lagache (LACAN, 1958/1998). Nesse texto, Lacan critica a suposta diferenciação primária referendada pelo fato de que o recém-nascido alterne o estado de vigília e de sono dada à “existência de aparelhos que garantem um mínino de autonomia” (LAGACHE apud LACAN, 1958). Para Lacan, a realidade da diferenciação tal como é proposta por Lagache “deixa em suspenso seu uso propriamente significante, do qual depende o advento do sujeito” (LACAN, Ibid, p. 661). É a isso que Soler se refere acerca da entrada no real e da entrada num discurso, ou melhor, no discurso do Outro. 
Lacan comenta que à necessidade que sustenta essa diferenciação primária é preciso somar-se a demanda, mesmo antes de qualquer estrutura cognitiva, para que o sujeito “faça sua entrada no real” (LACAN, Ibid). Tudo isso remete à questão de alíngua. 
Lacan comenta que à necessidade que sustenta essa diferenciação primária é preciso somar-se a demanda, mesmo antes de qualquer estrutura cognitiva, para que o sujeito “faça sua entrada no real” (LACAN, Ibid). Tudo isso remete à questão de alíngua. 
De acordo com Robert e Rosine Lefort, o bebê, ao balbuciar, ainda está “no ‘Há do Um’, onde o gozo da alíngua se inscreve como gozo do Um antes do Outro” (LEFORT, 1991, p. 4). O significante aí está ligado ao objeto a, um objeto a do Outro, o Outro é portador desse objeto. Nesse momento, não há nenhuma espécie de apelo ao Outro. Assim, cabe lembrar que no autismo “a ausência da dimensão do apelo é a contrapartida e o complemento da recusa de ser chamado pelo Outro” (SOLER, 1999. p. 225). 
O gozo em causa seria prévio ao Outro “furado pela virtude do significante” (LEFORT, op. cit.), já que “é o significante que faz furo no real do Outro pela demanda” (Ibid). O gozo em causa é possível pensá-lo como prévio ao Outro que está em jogo na incorporação significante. Este último é Outro que é barrado, inconsistente, uma vez que não há um significante (S) que garanta sua existência e consistência; Outro próprio da neurose. 
O gozo prévio ao Outro pode ser tomado como um real do ser vivente. Na psicose, ele retorna no real e, na neurose, ele retorna no simbólico. A não-incorporação significante do Outro simbólico está em causa no que diz respeito à problemática do corpo no autismo. No que diz respeito ao autismo teríamos um “aquém da alienação, uma recusa de entrar, um permanecer na borda” (SOLER, 1999, p. 219) do discurso do Outro. 
A inscrição em um discurso acontece dada a efetivação da operação de separação. E é a inscrição do Nome-do-Pai no Outro que permite a inscrição num discurso. Assim, na neurose a efetivação da estrutura está posta dada a efetividade das operações de alienação e separação. O sujeito neurótico entra no discurso tanto que o retorno do recalcado se faz no próprio simbólico. Já na psicose, a operação de separação não acontece dada a foraclusão do Nome-do-Pai. 
O psicótico está na linguagem, mas está fora do discurso uma vez que a operação de separação não é operante. Na psicose paranoica, encontramos o fora do discurso ilustrado pela instalação do sujeito no campo da alienação, sem que haja a operação de separação. Na psicose, portanto, o que é foracluído do simbólico retorna no real, por meio das alucinações e delírios. 
É a incorporação significante que mortifica a carne e faz surgir o incorpóreo; tanto a libido como órgão do incorpóreo como o objeto a. Nessa perspectiva, o circuito da pulsão seria a representação de como o organismo libidinal vai pegar e, portanto, contornar, os objetos a e como o sujeito utiliza-se da linguagem, da fala, para isso. Abaixo, o circuito pulsional conforme proposto por Lacan (1964/1985, p. 169): 
Logo, um corpo para existir no simbólico supõe uma produção de um vazio, pela operação significante, que é a própria extração do objeto a. Contudo, no autismo encontramos uma “holófrase contínua” (RODRIGUEZ, 1999, p. 245), termo proposto por Leonardo Rodriguez, cuja manifestação encontramos nas frases construídas sem intervalos ou pontuação e com bastante ecolalia. Lacan estava atento a isso tanto que numa conferência, em Genebra, sobre o sintoma falou que a dificuldade para escutar sujeitos autistas, “para dar seu alcance ao que dizem, não impede que se trate, finalmente, de personagens de preferência verbosos” (LACAN, 1975/1998). 
De fato, as crianças autistas são tomadas como articulando muitas coisas, e o que precisa ser examinado é onde escutaram o que articulam. Leo Kanner, psiquiatra, foi um dos primeiros a perceber e estabelecer isso. 
Os autistas estão na linguagem ao serem falados pelo Outro, mas permanecem fora do discurso; logo, é possível dizer que o autismo é “uma doença da libido” (SOLER, 1999, p. 228), sendo a libido um órgão criado pela linguagem. Soler ressalta que o autismo seria uma “doença que vai muito além das relações ditas de objeto” (Ibid). É assim que na análise é a libido do Outro que se liga à criança autista. Isto pode acontecer por meio do manejo do significante. 
Um menino que iria fazer três anos e estava sendo treinado pelos familiares a cantar parabéns em seu aniversário, já que recomeçava a verbalizar algumas palavras, faz um desenho com muitas garatujas e o número 3 sobressai ao olhar da analista que marca: “olha o 3”. A criança olha o desenho e se volta para a analista com um largo sorriso. A partir daí passa a nomear e identificar os andares do seu apartamento como o de outros familiares que visita com frequência, como dos profissionais com os quais tem atendimento. 
Para Soler “é sobre o Outro como máquina significante, sobre o corpo da linguagem” (Ibid.), que uma criança autista se liga, como também pelo toque, pelo fato de tocar a analista. Uma criança costumava circular bastante durante o atendimento até que com ajuda da analista alcançava a janela e a partir daí começava a expressar por palavras, portanto, significantes, o que via. Entretanto, é preciso ainda examinar o estatuto do significante em causa. Surge, então, a pergunta: a criança autista permanece como puro significado do Outro? 
Soler, no texto Autismo e Paranoia, toma um exemplo de caso clínico de Margaret Malher (MALHER apud SOLER, 1999). Trata-se de Stanley que tinha jogos nos quais ele próprio se ligava e desligava, além de brincar assim com o interruptor. Segundo Soler, “Stanley nos mostra, à sua maneira, que o corpo do Outro, aqui o analista, é o lugar do corpo incorporal: que ele diga bebê ou que ele o toque têm o mesmo efeito” (Ibid.). Ele costumava chegar inerte às sessões e seja quando tocava a analista, ou seja, quando abria o livro que tinha uma figura de bebê, ele próprio entrava em movimento. Atestando “como se ele próprio tivesse uma espécie de escolha entre se ligar ao Outro ou não” (Ibid.). Isso tem referência com a operação de alienação: ou bem a criança fica como um puro corpo vivo, sem libido, inerte, ou “se torna uma máquina significante” (bid.), é maquinizado. 
Na clínica, até mesmo um boneco pode fazer a criança autista se ligar. Por meio de um boneco em cujas partes do corpo tocamos e ele se põe a possa cantar, espirrar, dizer que sente cócegas ou contar números, uma criança insistia em fazer a escolha em apertar a mão do boneco, pois assim conseguia que ele cantasse sempre uma mesma música. A letra da música dizia: “Lá fora tem um mundo colorido onde as cores fazem sentido: azul, verde, vermelho e amarelo. Cores diferentes desse mundo encantado, cores e formas para todo lado”. Essa criança, ao chegar à sessão, corria para o boneco e, inicialmente, pedia à analista para ligar o botão que fazia o boneco funcionar, depois ela própria ligava o botão. A criança apertava insistentemente o botão até que a mesma música tocasse repetidas vezes. Em seguida, ia para a janela e pedia para abri-la, depois de algum tempo a cor verde se tornou sua cor favorita e era uma das cores presentes na letra da música.
Voltemos à pergunta: a criança autista permanece como puro significado do Outro? Leo Kanner no texto intitulado “Linguagem fora de propósito e metafórica no autismo infantil precoce”, datado de 1946, discute essa questão (KANNER apud RODRIGUEZ, 1999). De acordo com Rodriguez, para Kanner, “algumas expressões verbais fora de propósito e sem sentido de crianças autistas são, na realidade, expressões metafóricas” (RODRIGUEZ, Ibid., p. 249). Para Kanner estaríamos, então, diante de uma metáfora de transferência de significado entre palavras; assim, “uma coisa se põe no lugar de outra, à qual apenas se assemelha” (KANNER, 1946, p. 16). 
Era assim que um menino de quatro anos, ao encontrar entre os brinquedos da sala Nemo, do filme Nemo, sempre o pegava para brincar. Certo dia descobre, na estante da analista, uma escultura que lembra a forma de um peixe. Ele a nomeia de Nemo e a leva para a pia, enche a pia de água para mergulhar “Nemo”. 
Para Rodriguez, as ilustrações de Kanner, nesse artigo apontam mais para as definições de metonímia. Ao citar o texto Kanner dá razão a Lacan (CECCARELLI apud RODRIGUEZ, 1999), Rodriguez enfatiza que a falta de intervalo entre S1 e S2 impede que haja sujeito como metáfora, já que para haver metáfora é preciso que a cadeia significante não seja plena. Como sabemos, Lacan (1964/1985) faz referência a isso ao falar da holófrase da cadeia significante presente na psicose, no fenômeno psicossomático e na debilidade mental. Lacan não se refere ao fenômeno psicossomático e na debilidade mental como estrutura, mas sim que elas apontam para algo específico da relação do sujeito com o Outro. 
É interessante, então, lembrar que Lacan já havia chamado atenção sobre isso no texto De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose (1958/1998). Nesse texto, Lacan diz que “a condição do sujeito (neurótico ou psicótico) depende do que acontece no Outro, A, e tal acontecimento se articula num discurso (o inconsciente é o discurso do Outro)” (LACAN, 1958/1998, p. 555). 
No exemplo com Nemo vemos que ele pode ser um dos estágios da aquisição da linguagem por qual passa uma criança. Trago, então, outro exemplo. Uma criança de cerca de dois anos vê uma locomotiva se aproximar e a nomeia por “Thomas”, a locomotiva é nomeada pelo nome próprio do desenho animado Thomas e seus amigos, de um canal fechado da TV. Para essa criança, como é para todos que adquirem a linguagem durante um tempo, “o nome próprio carece do traço essencial do nome próprio: nomear algo, um objeto individual na sua singularidade” (RODRIGUEZ, op. cit.). Contudo, encontramos isso institucionalizado na linguagem quando, por exemplo, utilizamos Gilette no lugar de barbeador. O significante Gilette passa a ser o nome próprio de barbeador e não remete apenas à marca Gilette, há uma ampliação de sentido. 
No autismo, a holófrase do par significante S1 e S2 não é sem consequências. O “S1 se subtrai ao discurso e, aderido como está ao S2 holofraseado, ele o ‘arrasta’ consigo para fora do discurso S2” (Ibid.). Assim, a clínica com crianças autistas revela que os significantes se mostram congelados e exercem apenas a função de signo, representar algo para alguém sem a dialética própria à função significante. Entretanto, costumamos ouvir diferentes acepções sobre a saída do autismo. Para Rodriguez, isso corresponderia “ao ‘descongelamento’ desses signos e à sua mutação em significantes” (Ibid.). Cabe ainda colocar mais uma questão: tratar-se-ia de uma aquisição sem volta ou de uma alternância? 
Retomarei um último recorte clínico, no qual tentarei abordar essa questão. O menino em vias de fazer três anos que era cotidianamente treinado pelos próximos a cantar “Parabéns para você” e apagar a velinha. Essa criança ao desenhar ainda faz bastante uso de garatujas, onde vemos o furor do polimorfismo sexual da criança, porém o número 3 aparece e a analista marca: “olha o 3”. A criança, que ia fazer outro desenho, para e volta-se para a analista com um largo sorriso.
Ao mesmo tempo, essa criança ainda mantém uma linguagem com muita ecolalia onde é vislumbrado o seu apagamento enquanto sujeito por meio do qual o sujeito permanece excluído do discurso que enuncia. 
Por fim, concordo com a afirmação de Colette Soler, segundo a qual “esses sujeitos não entram por sua própria conta na alienação significante” (SOLER, 1999, p. 226). Se o fazem é na medida em que podem encontrar um analista como o parceiro que pode escutá-los e acompanhar como se dá e se desenrola a relação com o Outro para essas crianças. Longe de automatizar a linguagem e a vida das crianças autistas, o analista deve estar atento à possibilidade de a criança poder deixar de ser um puro significado do Outro. 
Andréa Hortélio Fernandes*
Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano 
Campo Psicanalítico de Salvador 
Fórum Salvador 
Universidade Federal da Bahia. Instituto de Psicologia 
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq 
Referências 
KANNER, L. Langage hors-propos et metaphorique dans l’autisme precoce infantile. Un inédit de Leo Kanner. Disponível em: <google.com/site/olivierdouvilleofficel/article/um-inedit-de-leo-kanner>, p. 16, 1946. 
LACAN, J. (1958). Observação sobre o relatório de Daniel Lagache. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, pp. 635-691. 
__________. (1958). De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, pp. 537-590. 
__________. (1964). O Seminário: livro XI: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. 
__________. (1975). Conferência em Genebra sobre O Sintoma. In: Opção Lacaniana. São Paulo, n. 23, pp. 6-16, dezembro de 1998. 
__________. Conferências e entretiens dans l’université nord-américaines. Scilicet 6/7. Paris: Seuil, pp. 6-63, 1976. 
_________. (1977). Le Seminaire, livre 25: Le moment de conclure. Inédito, aula de 15 de novembro de 1977. Disponível traduzido para o português por J. Gerbase no site do Campo Psicanalítico <www.campopsicanalitico.com.br> . 
LEFORT R. & R. L’infantile et le feminine. Archives de Psychanalyse. Paris: Eolia, 1991, p. 4. 
NOMINÉ, B. A questão do sintoma e a problemática do corpo no autismo. In: ALBERTO, S. (org.). Autismo e Esquizofrenia na Clínica da Esquize. Rio de Janeiro: Marca d’Água, 1999, pp. 233-241. 
NOMINÉ, B. O analista frente ao inconsciente. Stylus: revista de psicanálise, n. 25. Rio de Janeiro: EPFCL-Brasil, pp. 15-28, novembro de 2012. 
RODRIGUEZ, L. O dizer autista. In: ALBERTO, S. (org.). Autismo e esquizofrenia na clínica da esquize. Rio de Janeiro: Marca d’Água, 1999, pp. 245-257. 
SOLER, C. O desejo do psicanalista – onde está a diferença? In: Coletânea de Textos de Colette Soler. Salvador: EBP, 1997, pp. 1-3. 
SOLER, C. Autismo e Paranoia. In: ALBERTO, S. (org.). Autismo e Esquizofrenia na Clínica da Esquize. Rio de Janeiro: Marca d’Água, 1999, pp. 219 -232. 
Fonte: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-157X2014000200012 

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