Ir para o conteúdo
Psicologa & Psicanalista Patricia Spessi
  • Home
  • Quem Sou
  • Atendimentos
  • Blog
  • Contato
AGENDE AGORA
AGENDE AGORA
Psicologa & Psicanalista Patricia Spessi
  • Home
  • Quem Sou
  • Atendimentos
  • Blog
  • Contato

Nosso Blog

O sexo das moscas e o da gente

Por: Contardo Calligaris 

“Vários leitores pediram que eu comentasse um artigo da revista ‘Cell’ (vol.121, de 3/6) que se tornou notícia no mundo inteiro. 
A Folha de 4/6, por exemplo, propôs uma matéria com o título ‘Alteração da gene faz mosca hétero virar homossexual’. No sábado passado, Dráuzio Varella, em sua coluna, tratou do mesmo assunto; concordo com suas observações, mas quero acrescentar algumas reflexões. 
O artigo da ‘Cell’ (disponível on-line em www.cell.com) apresenta uma pesquisa, de Barry Dickson e Ebru Demir, cujos resultados vou resumir. As moscas drosófilas têm um gene (chamado ‘fru’) que comanda as condutas necessárias para que macho e fêmea se juntem, garantindo a reprodução. Essas condutas consistem, no macho, num ritual ferrenho (‘fixed-action pattern’), em que ele encosta a perna, bate as asas, lambe o sexo da fêmea e, se for aceito, copula por 20 minutos. Com isso, a fêmea, com a condição de que não tenha copulado recentemente com outro macho, abre a vagina. 
Dickson e Demir verificaram experimentalmente que o ‘fru’ é um ‘switch-gene’, um gene que funciona como um interruptor, produzindo o comportamento sexual masculino ou feminino, seja qual for o fenótipo sexual da mosca em questão. Se o interruptor do ‘fru’ está para masculino numa mosca fêmea, a dita mosca vai abordar outras fêmeas e praticar o ritual masculino descrito acima. Inversamente, moscas machos com o interruptor em posição feminina ficam à espera de serem abordadas por outros machos. 
Será que, com base nessa pesquisa, é possível chegar a alguma conclusão que valha para os humanos? A resposta é não. 
Drauzio Varella, em seu comentário, concluiu que ‘o homem é resultado de uma interação complexa entre o programa genético (…) e o impacto’ da experiência e do ambiente. Perfeito. 
Ora, acontece que a imprensa mundial deu destaque ao artigo da ‘Cell’ porque a pesquisa ‘demonstraria’ que a escolha do sexo do parceiro é o efeito direto de uma determinação genética. Se isso vale para as moscas, por que não valeria para a gente? Em suma, seríamos heterossexuais ou homossexuais só por causa de um gene. 
Essa idéia agrada a muita gente. Há os que gostam de conceber a homossexualidade como uma malformação genética que poderá ser ‘curada’. E há os que acham interessante ‘desculpar’ a homossexualidade (‘afinal, é uma coisa genética’). 
Albert Kinsey, quando se interessou pela variedade do comportamento sexual humano, esqueceu-se das moscas, que eram seu antigo objeto de pesquisa. Ele tinha razão: a experiência de Dickson e Demir não implica nada no campo da sexualidade humana por duas razões fundamentais. 
1) Dickson e Demir constatam que os comportamentos sexuais das moscas são ‘essenciais para o sucesso reprodutivo’, portanto ‘é provável que uma forte pressão seletiva tenha favorecido a evolução de genes que inscrevem (‘hardwire’) esses comportamentos no cérebro’. Vale para os humanos? 
O comportamento sexual humano não segue nenhum ‘fixed action pattern’, nenhum ritual fixo: contrariamente aos machos das moscas, que encostam a perna, batem as asas, etc., os homens podem parar de motocicleta na frente do bar, convidar para ver estampas japonesas, oferecer flores, pagar ou ‘encoxar’ no metrô. A mesma variedade existe do lado das mulheres. Ou seja, nos humanos, não há rituais fixos: a ‘pressão seletiva’ não produziu um gene que regraria as condutas de acasalamento. 
Além disso, a evolução levou nossa espécie por um caminho oposto ao das moscas e mesmo ao dos outros mamíferos: a atividade sexual, para nós, não é orientada para o sucesso da reprodução. A prova disso não está apenas em nosso uso ‘devasso’ de camisinhas e anticoncepcionais. Ela está nesta obviedade: a excitação sexual dos humanos não depende da fecundidade da fêmea. Para nós, em algum momento da evolução, a menstruação se dissociou da fecundidade feminina e parece que, desde então, transamos por prazer e nos reproduzimos ao deus-dará. 
2) A ideia de que a escolha do sexo do parceiro (homo ou hétero) seja a bipolaridade essencial dos comportamentos sexuais humanos é, no mínimo, ingênua. 
Talvez porque a evolução nos levou a transar por prazer, a veriedade dos caminhos de nosso desejo sexual escapa a uma descrição pela qual o sexo do parceiro escolhido seria a característica crucial. Um mestre sádico que domina indiferentemente escravos e escravas, é o quê, homo ou hétero? Uma adepta do suingue que só curte o marido com a participação de outra mulher é o quê? Os numerosos adolescentes que, hoje, têm amizades coloridas com parceiros de ambos os sexos são o quê? 
Quem quiser encontrar a determinação genética de nossos comportamentos sexuais pode antecipar a procura de muitos interruptores diferentes. 
Uma descrição da sexualidade humana organizada apenas pelo sexo do parceiro escolhido deixa a compreensão de nossos desejos, literalmente, às moscas”. 
Contardo Calligaris 
Fonte: Folha de São Paulo 16 de junho de 2005. (Folha Ilustrada)

Está gostando do conteúdo? Compartilhe!

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on linkedin
Share on linkedin
Share on print

Posts Recentes:

Sobre mim

Possuo formação acadêmica em Psicologia

O que é a Psicanálise?

A Psicanálise é um método

Como trabalha o Psicólogo / Psicanalista?

A terapia com o psicólogo/psicanalista

Autoestima

Sobre a Autoestima O que

Síndrome do pânico

Uma das questões que podemos

Artigos • Depressão e luto

• A depressão Maria Rita

Trabalho como Psicóloga Clínica e Psicanalista em consultório particular há 19 anos. Atualmente faço parte de grupos de estudo em Psicanálise Lacaniana, estando presente também em conferências e palestras sobre a Psicanálise na atualidade.

Atendimento

  • Atendimento online e presencial
  • Atendimento somente com horário agendado

Copyright © 2023 Psicologa & Psicanalista Patricia Spessi | Feito com 🤎