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Perdas Necessárias

Por: Judith Viorst
“Quando pensamos em perda, pensamos na morte das pessoas que amamos. Mas a perda é muito mais abrangente em nossa vida. Pois perdemos, não só pela morte, mas também por abandonar e ser abandonado, por mudar e deixar coisas para trás e seguir nosso caminho. E nossas perdas incluem não apenas separações e partidas dos que amamos, mas também a perda consciente ou inconsciente de sonhos românticos, expectativas impossíveis, ilusões de liberdade e poder, ilusões de segurança – e a perda do nosso próprio eu jovem, o eu que se julgava para sempre imune às rugas, invulnerável e imortal.
 
Um tanto quanto enrugada, altamente vulnerável e definitivamente mortal, examinei essas perdas. Essas perdas de uma vida inteira. Essas perdas necessárias. As perdas que enfrentamos quando nos vemos face a face com o fato do qual não podemos fugir… 
que nossa mãe vai nos deixar, e que nós vamos deixá-la; 
que o amor de nossa mãe jamais será só nosso; 
que as dores que nos machucam nem sempre desaparecem com um beijo; 
que estamos no mundo essencialmente por nossa conta; 
que teremos de aceitar – nos outros e em nós mesmos – um misto de amor e ódio, de bem e de mal; 
que, por mais sábia, bela e encantadora que seja, nenhuma garota pode se casar com o pai quando crescer; 
que nossas opções são limitadas pela anatomia e pela culpa; 
que há falhas em qualquer relacionamento humano; 
que nosso status neste planeta é implacavelmente efêmero; 
e que somos completamente incapazes de oferecer a nós mesmos ou aos outros que amamos qualquer forma de proteção – proteção contra o perigo e contra a dor, contra as marcas do tempo, contra a velhice, contra a morte, proteção contra nossas perdas necessárias. 
Essas perdas são parte da vida – universais, inevitáveis, inexoráveis. E essas perdas são necessárias porque para crescer temos de perder, abandonar e desistir. 
Pois a estrada do desenvolvimento humano é pavimentada com renúncia. Durante toda a vida crescemos desistindo. Abrimos mão de alguns dos nossos mais profundos vínculos com outras pessoas. 
De certas partes muito queridas de nós mesmos. Precisamos enfrentar, nos sonhos que sonhamos, bem como nos nossos relacionamentos íntimos, tudo o que jamais teremos e tudo o que jamais seremos. Investimentos emotivos nos fazem vulneráveis a perdas. E às vezes, por mais inteligentes que sejamos, temos de perder. 
Pediram a um garoto de oito anos um comentário filosófico sobre a perda. Sendo homem de poucas palavras, respondeu: “Perder suga a gente”. Em qualquer idade, temos de concordar: perder é difícil e doloroso. Consideremos também o ponto de vista de que só através de nossas perdas nos tornamos seres humanos plenamente desenvolvidos. A pessoa que somos e a vida que vivemos são determinadas, para o melhor e para o pior, pelas nossas experiências de perda.” 
Fonte: “Perdas Necessárias” – Judith Viorst – Editora Melhoramentos, 1988.

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