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Sexualidade na Psicanálise

A concepção psicanalítica da sexualidade embaralha as fronteiras entre o normal e o patológico, bem como prescinde da categoria de instinto sexual. Em Psicanálise a sexualidade está divorciada da sua ligação por demais estreita com os órgãos genitais, sendo considerada como uma função corpórea mais abrangente, tendo o prazer como a sua meta e só secundariamente vindo a servir às finalidades de reprodução.

Em seu estudo autobiográfico Freud (1935) declara que poucos dos achados da psicanálise tiveram tanta contestação universal ou despertaram tamanha explosão de indignação como a afirmativa de que a função sexual se inicia no começo da vida e revela sua presença por importantes indícios mesmo na infância. 
E contudo nenhum outro achado da análise pode ser demonstrado de maneira tão fácil e completa. Freud ainda neste livro declara que quando modificou a teoria do trauma infantil sendo levado a reconhecer que as cenas de sedução jamais tinham ocorrido e que eram apenas fantasias que os pacientes haviam inventado e que os sintomas neuróticos não estavam diretamente relacionados com fatos reais, mas com fantasias impregnadas de desejos; ele abriu o caminho para o entendimento da sexualidade infantil. 
Em Freud, a função sexual encontra-se em existência desde o próprio início da vida do indivíduo, embora no começo esteja ligada a outras funções vitais e não se torne independente delas senão depois; ela tem de passar por um longo e complicado processo de desenvolvimento antes de tornar-se aquilo com que estamos familiarizados como sendo a vida sexual normal do adulto. De início a função sexual é não centralizada e predominantemente auto-erótica. A sexualidade começa por manifestar-se na atividade de todo um grande número de pulsões componentes; estas estão na dependência de zonas erógenas do corpo; atuam independentemente umas das outras numa busca de prazer e encontram seu objetivo, na maior parte, no corpo do próprio indivíduo. 
Após a fase do auto-erotismo, o primeiro objeto de amor em ambos os sexos é a mãe, afigurando-se provável que, de início, uma criança não distingue o órgão de nutrição da mãe do seu próprio corpo. 
A sexualidade está divorciada da sua ligação por demais estreita com os órgãos genitais, sendo considerada como uma função corpórea mais abrangente, tendo o prazer como a sua meta e só secundariamente vindo a servir às finalidades de reprodução. 
A homossexualidade pode ser remetida à bissexualidade constitucional de todos os seres humanos e aos efeitos secundários da primazia fálica. A psicanálise não se preocupa em absoluto com julgamentos de valor a respeito da sexualidade. 
A maneira como as pulsões sexuais podem ser influenciados e desviados lhes permite ser empregados para atividades culturais de toda espécie, para as quais, realmente, prestam as mais importantes contribuições. 
Em psicanálise o conceito do que é sexual abrange bem mais do que seu sentido popular. É reconhecido como pertencente à vida sexual todas as atividades dos sentimentos ternos que têm os impulsos sexuais primitivos como fonte, mesmo quando esses impulsos se tornam inibidos com relação a seu fim sexual original, ou tiveram de trocar esse fim por outro que não é mais sexual. (Freud, 1910) 
A ausência mental de satisfação pode existir independente da abstinência de sexo. O coito é apenas uma forma de expressar a sexualidade, mas não a própria sexualidade. (Freud, 1910). 
Loureiro (2005) diz que a psicanálise efetua uma verdadeira ruptura naquilo mesmo que até então se considerava sexualidade. Ao contrário dos discursos normativos da sexologia e da criminologia, que priorizavam a explicação com base em teorias da hereditariedade e da degenerescência, a concepção psicanalítica da sexualidade embaralha as fronteiras entre o normal e o patológico, bem como prescinde da categoria de instinto sexual (impulso pré-formado, comum à espécie como um todo, dotado de objeto e finalidade fixos), Freud usa o termo Trieb (impulso ou pulsão). A pulsao não implica nem comportamento pré-formado, nem objeto específico. O conceito de pulsão demonstra as múltiplas, contingentes e mutantes feições que pode assumir a sexualidade humana. 
Referências :
Loureiro, Inês. Luzes e Sombras. Freud e o advento da psicanálise. In: Jacó-Vilela, A. M.; Ferreira, A. A. L.; Portugal, F. T. Historia da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2005. Freud, Sigmund. (1935). Um Estudo Autobiográfico. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas Vol. XX. Rio de Janeiro: Imago editora 1996.

Freud, Sigmund. (1910). A Psicanálise Silvestre. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas: Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996. 
Artigo escrito por: Joviane Moura, site: Psicologado 

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