Por: Cláudia Juliana Ochs Maciel
As coisas mudam, todos sabem disso. Às vezes essa mudança atropela, vem de uma hora para outra, mas na imensa maioria das vezes, ela vem em doses homeopáticas, você nem a percebe, mas ela está ali, numa constante. “Tudo muda o tempo todo no mundo”, já diria nosso amigo Lulu Santos.
Sabemos que não somos os mesmos de anos atrás, em alguns momentos conseguimos perceber que não somos os mesmos da semana passada, sabemos que mudamos e, acima disso, sabemos que precisamos mudar para evoluir, para não viver na inércia. Mas mesmo assim, diante de tantos saberes, é comum que o medo invada diante da possibilidade da tão comum mudança acontecer.
Parece que temos uma espécie de ideia equivocada de que se as coisas permanecerem iguais, elas estarão sob controle e saberemos exatamente como agir, todos os dias. Por que o desmoronamento dessa ideia soa tão perigoso? Por que é tão difícil para a maior parte das pessoas não saber o que vai acontecer no próximo capítulo? Tem gente que prefere viver infeliz a arriscar-se. Prefere a prisão suja e pequena (tão pequena que se conhece cada centímetro dela) do que o preço que se paga pela liberdade… que é justamente esse, o da dúvida, das incertezas diante das escolhas que nos fazem mudar.
Mas agora, um papo reto. O que realmente se muda? Onde é que se muda? Como e quando se muda? As mudanças mais perceptíveis são aquelas radicais, tipo: “Não aguentava mais o meu chefe, pedi demissão, me mudei para Rondônia”. Ou ainda, “ela não me compreendia mais, tive que me afastar, preciso ficar sozinho” ou “parei com tudo, chega de carboidratos, agora sou saudável”. São muitos exemplos das demarcações que são feitas ao longo da vida que fincam a bandeira da mudança. Mas é interessante perceber as repetições que se aglomeram junto dessas ditas mudanças, e que por fim só mostram que o cenário muda, mas você, essencialmente, não muda, só repete infinitamente um ciclo sem fim.
Aquele emprego que você não aguentava mais e saiu correndo, bom, você lembra que uns anos antes teve a mesma sensação? Que acabou mudando de área, de cidade, de circulo social… e olha a sensação aí de novo, tudo igual.
Aquela relação que estava desgastada, onde você não era compreendido, olha ela novamente aí. Você mudou de parceiro, mas continua se sentindo depreciado.
A nova meta de vida saudável, essa é diferente. Mas você já teve tantas e tantas quebraram e você acabou voltando a estaca zero.
O que eu quero dizer com tudo isso? Não adianta o cenário mudar enquanto você continuar preso em você mesmo, tropeçando, esbarrando em coisas que de fato você não quer ver. É bem mais fácil olhar para um chefe chato, uma namorada indiferente ou resolver fazer a nova dieta do momento do que ver a si mesmo. É o chefe que de fato é chato? Ou é você que não suporta o modo como se relaciona com o trabalho?
É a namorada que é indiferente? Ou é você que mais uma vez escolheu ficar ao lado de quem você de fato não deseja? Você realmente quer fazer dietas? Ou quem sabe sua relação com a comida seja prazerosa demais, a ponto de você sempre acabar se sabotando? É mais fácil notarmos as mudanças de cenário do que as mudanças efetivas, ou melhor, não é nada fácil nos darmos conta dos nossos padrões de repetição, das nossas constantes mudanças para não mudar!
Aquilo que infinitamente se repete no tempo é o que temos de mais precioso, o que mais teimamos em não largar, as posições onde estamos acostumados a atuar, onde nos identificamos… mas é aí também a morada do patológico. Pequenas mudanças ocorrem sim todos os dias, mas as significativas, aquelas que te elevam a outro patamar, que te tiram da inércia, essas necessitam de um investimento pessoal, você precisa se esforçar de fato.
Se você percebe que algo lhe escapa, dá-se conta de que há uma constante em sua vida que sempre acaba se repetindo e que é incontrolável, quem sabe esteja aí um excelente motivo para você permitir se escutar e se ressignificar, só assim poderá haver uma quebra dos padrões adotados como lugar seguro, mas que lhe causam sofrimento psíquico. Permita-se, escute-se e seja escutado, procure um psicanalista, dê um fim ao ciclo!
Sobre a autora: Cláudia Juliana Ochs Maciel é psicóloga e psicanalista em Tubarão e Laguna (Santa Catarina) – CRP 12/12918
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